“Se não fizermos estas medidas, se estivermos à espera da vacina, não teremos números baixos”

“Se não fizermos estas medidas, se estivermos à espera da vacina, não teremos números baixos”

Américo Costa, médico pneumologista do Centro de Diagnóstico Pneumológico de Amarante, alerta para os cuidados a ter com a etiqueta respiratória, uso de máscara e higienização das mãos em todas as alturas

Jornal A VERDADE entrevistou Américo Costa, médico pneumologista do Centro de Diagnóstico Pneumológico de Amarante, sobre as medidas de confinamento que têm vindo a ser adotadas há, pelo menos, um mês, no âmbito da pandemia da COVID-19.

“A única medida que temos, neste momento, para reduzir ou quase anular os contágios é mesmo o confinamento”, comenta, sublinhando a importância de “manter a distância social, usar máscara e fazer a higienização, principalmente, das mãos e, portanto, a etiqueta respiratória”.

As máscaras que recomenda são as FFP2 que impedem de infetar e de receber o vírus e “são melhores que as máscaras cirúrgicas”, que impedem apenas que infete alguém: “Mas se toda a gente usar máscara cirúrgica, em princípio, estamos todos mais seguros”. No entanto, recomenda também que não se façam ajuntamentos no seio da família, pois “este vírus é pior que o vírus da gripe”, uma vez que, “antes do sintoma, já é contagioso” e “a contagiosidade pode tornar-se perigosa e dar uma infeção grave” em casos de comorbilidades e idades avançadas.

Por isso é que se denomina SARS – Severe Acute Respiratory Syndrome (Síndrome Respiratório Agudo), que pode levar à morte. Atualmente, o número de mortes por COVID-19 é de cerca de 70 pessoas por dia e Américo Costa acredita que “isto vai descer até fins de dezembro”, altura em que vão haver, “provavelmente, entre 6.000 a 6.500 mortes provocadas por isto, é o dobro daquilo que acontece, geralmente, com o vírus da influenza, o vírus da gripe”. “Vamos estar nesta situação se não fizermos estas medidas, se estivermos à espera da vacina, não teremos números baixos, nem sequer conseguimos controlar a pandemia”, acrescenta, acreditando na possibilidade de uma terceira vaga.

“As pessoas que não pensem que vão deixar de usar máscara depois de tomar a vacina. Vamos ter que continuar a usar máscara. Aliás, se virem os povos orientais, na gripe, eles usam sempre máscara, estão sempre a usar máscara quando têm problemas víricos; a gente até escarra para o chão. Não temos ainda etiqueta respiratória como deve de ser e, portanto, isto é fundamental para tratar deste tipo de patologias”, comenta.

Daquilo que vai observando, as pessoas que vão até ao centro de saúde “trazem sempre máscara e já não trazem a máscara social”.“Agora fora, em casa, não sei, provavelmente, o grande problema em Portugal é a iliteracia, é muito grande e, portanto, as pessoas fazem as coisas por medo, não porque têm consciência que devem fazer. Pensam que só atinge aos outros. Mas não, as pessoas podem, ainda sem sintomas, já estarem a ser contagiosas e, portanto, é preciso ter atenção nisso”, conclui.

“Provavelmente, lá para abril, maio, as coisas já poderão estar mais serenas, se tudo correr bem até lá; se a terceira vaga não for assim tão profunda como a gente pensa que vai ser, lá para fins de janeiro, inícios de fevereiro; se, entretanto, começarmos a vacinar as pessoas e, portanto, vamos ver, mas não podemos largar esta nossa etiqueta respiratória, esta nossa contenção nos contactos para podermos resolver este problema”, demarca.

“Esta doença respiratória, que se propaga através das gotículas que saem da respiração ou quando falamos, só se consegue travar se usarmos máscara, distanciamento social e se ficarmos em casa o mais tempo possível e, no trabalho, fazermos teletrabalho ou conseguirmos fazer este trabalho assim, sempre com máscara e com higienização das mãos, sempre a etiqueta respiratória, não estarmos a cuspir para cima dos outros, senão não conseguimos controlar. Não esperem que a vacina vá resolver o que quer que seja”

Defende que a vacina “vai simplesmente diminuir o número de mortes, é provável que sim, tal como a da influenza, do vírus da gripe”. “Mas vamos estar sempre naquilo que chamamos de a próxima grande pandemia, que não é esta – porque estas zoonoses [doenças dos animais – domésticos e não domésticos – transmissíveis ao homem] não se conseguem debelar. O facto de andarmos a dar cabo das florestas, a pôr os animais próximos de nós, a comermos tudo e mais alguma coisa isto só faz com que os vírus fiquem cada vez mais próximos de nós e é muito fácil depois eles passarem de uma espécie para a outra”, indica.

A COVID-19 “é uma zoonose” e as zoonoses não se conseguem erradicar porque têm reservatório, “geralmente, de outra espécie que não a espécie humana”. “Pensa-se que, no caso dos coronavírus, sejam os morcegos, os mamíferos alados que têm muitas espécies, portanto, também muitos vírus. E, sendo uma zoonose, passa através de um ‘spill over’, que pode ser outra espécie animal, como pode ser também a espécie humana e, depois, quando acabar o surto, volta novamente para o reservatório. Portanto, é muito difícil terminar com este tipo de doença provocada quando é uma zoonose porque há sempre um reservatório onde o vírus está”, continua, explicando que, “nesse reservatório, o vírus ou não adoece, ou adoece muito pouco e, portanto, o mamífero, neste caso o morcego, continua na mesma a sua vida e o vírus depois volta novamente a ter mais um surto”.

“Todos os anos, temos novamente o vírus da gripe, todos os anos vamos ter, provavelmente, o coronavírus. Isto vai continuar e, se não utilizarmos estas medidas de contenção – porque é um vírus respiratório, portanto, podemos muito bem fazer essas medidas de contenção -, não conseguimos debelar a doença”

Além disso, “pensa-se que já há seis mutações do coronavírus e, provavelmente, vai haver mais e, portanto, vírus ARN são muito difíceis de controlar por causa da quantidade de mutações que têm”.

“Fique longe do vírus, não espere que o vírus fique perto de si”

 

Fonte: AVerdade.com

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